quinta-feira, 21 de abril de 2011

Minha aventura com Green Day - por Laurie L.

Você já viram, ouviram ou já leram sobre a história de Laurie L.? Aquela história que vem no encarte do Kerplunk. Já leram? Se surpreenderam? Bom, se ainda não, confiram-na abaixo:

Minha aventura com Green Day
por Laurie L.

Querido Diário,
Eu ainda não acredito! Eu, Laurie L., a garota mais sem graça e cacete da Pinole Valley High School, a garota de quem todos os meninos tiram sarro quando anda na rua, a garota cuja mãe não deixaria ir nem num show do New Kids On The Block porque "há freqüentemente um mau elemento nesses shows de rock, querida", eu vou excursionar com os donos do meu coração, GREEN DAY!!! Nem eu sabia, quando me inscrevi no "Passe Um Tempo Inesquecível Com O Green Day" da revista Compasso do Tigre (que o infeliz do meu irmão chama de Compasso da Puberdade, mas ele não sabe de nada, ele é mesmo um gay), que Eu, entre todos os milhões de fãs do Green Day na América, seria a escolhida!

O dia em que a carta chegou foi o mais feliz da minha vida. Mas, antes que eu pudesse ficar excitada demais, percebi que tinha um graaande problema... meus pais!! Eu sabia que eles nunca iam me deixar passar nem uma noite com uma banda de rock, muito menos quatro dias sozinha! Aí eu decidi não agüentar suas asneiras dessa vez. Eu não tinha certeza do que fazer, então no dia seguinte, na escola, perguntei pros tipos o que ELES fariam? Viu, eu imaginei o que pessoas com topetes, moicanos azuis e que só vão pra escola quando tão a fim e que lêem revistas com gente pelada fariam se precisassem descobrir um jeito de lidar com seus pais.

Aí eu cheguei nesse cara chamado Eggplant (cara, eu tenho dó dele, seus pais devem tê-lo odiado muito pra chamá-lo desse jeito) e ele me olhou tipo "Você quer mesmo excursionar com o Green Day?"
E eu disse: "Ah, sim, eu MORRERIA pra ir em tour com o Green Day."
Ele me olhou com cara de troça e disse: "Sim, mas você MATARIA por isso?"
Eu achei que ele tava brincando, mas sei lá. Aí eu olhei bem dentro dos olhos dele e SOUBE que ele não estava. Eu pensei, hmm, que diabo, isso só acontece uma vez na vida, imagine que legal ir nessa, blah, blah, blah... Então eu disse, a voz rouca e tudo: "É, acho que sim..." E ele disse: "Então o único que pode te ajudar é o Claude."

Aimeudeus! Até eu já tinha ouvido falar nesse Claude. Ele é tão ruim que é praticamente... SATÂNICO!!! Ele largou a escola na 8ª série e tudo que ele fazia era se drogar e ler livros estranhos e molestar menininhas. Eu tinha medo até de olhar pra ele. Mas eu já tinha ido longe demais pra desistir. Depois da aula, em vez de ir pra casa fui pra Telegraph Avenue, em Berkeley, onde a escória bate ponto, e, lógico, o Claude tava lá. Ele parecia um pervertido e tava fumando e todas aquelas meninas estavam em volta dele, como se quisessem que ele fizesse coisas más pra elas. Mas elas saíram do caminho quando me viram chegando, e o Claude não foi medíocre nem indecente nem nada. Ele foi até bem gentil.

Ele disse: "Meu amigo Eggplant me contou que você tem um problema."
Eu disse: "Dois, na verdade. E dos grandes."
"Pais, hein? Isso deve dar conta deles." Ele me deu uma garrafa marrom cheia de comprimidos.
"Quantos eu devo tomar?", perguntei.
Ele riu, tipo rá-rá-rá. "Não, não é você que toma, e sim ELES. Seus pais.
"Ah, não", eu disse, "meus pais não tomariam drogas. Eles praticam a Ciência Cristã."
"Você parece ser uma garota esperta. Aposto que você arranja um jeito."

E você sabe, ele tinha razão, eu FIZ.

Naquela noite eu me ofereci pra ajudar minha mãe com o jantar. Aí, quando ela não tava olhando eu esvaziei o vidro do Claude no purê de batatas. Aí eu falei que não estava me sentindo bem e subi e ouvi todas minhas gravações do Green Day cinco ou seis vezes.

Depois de um tempo pus minha cabeça pra fora da porta. "Ui!", ouvi meu pai dizer, "esse é o pior purê que já comi na vida!"
"Então faça você mesmo seu maldito jantar, seu porcalhão preguiçoso, eu não sou sua escrava." Eu fiquei surpresa, minha mãe nunca praguejava.
Meu pai disse: "Não vou comer isso, tem gosto de merda."
Mas minha mãe vociferou: "Ou você come essas batatas ou eu derramo elas na sua cabeça e entrocho o prato no teu cu."
"Shh", ele disse, "Laurie vai te ouvir."
"Ela tá dormindo, aquela cadela tapada. Juro, não sei como minha filha pode ser tão idiota. Aposto que os bebês foram trocados na maternidade."
"Ora, ora, ela é só meio lenta."
"É, e eu imagino quem ela puxou. Você não vai comer as batatas?"

Meu pai sempre faz o que minha mãe manda. Eu até ouvi ele raspar o prato. Logo depois eu ouvi uma batida e um estrondo e então a mesa da sala de jantar desabou. Eu desci e os dois estavam caídos no chão, como mortos. Foi bem estranho.

Eu me toquei que era melhor fazer algo antes que meu irmão chegasse em casa, porque eu não tinha mais pílulas pra dar pra ele também. Por sorte a gente tinha um triturador de lixo novinho, então eu peguei uma faca de açougueiro e cortei mamãe e papai em pedaços e os pus no triturador. Levou um tempão , e fez uma sujeira, mas eu fiquei cantando minhas músicas favoritas do Green Day e foi tudo mais fácil.

O único problema era que os ossos não cabiam no triturador, e eu estava ficando nervosa porque meu irmão chegaria a qualquer minuto. Então tive uma idéia. Apanhei todos os ossos e os carreguei pro quintal e os joguei pela cerca para o pitbull do vizinho. Ele ficou tão feliz que nem latiu pra mim.

Então meu irmão chegou em casa. "Onde estão mamãe e papai?", ele perguntou.
"Ahn, eles foram embora. Para... ahn... Utah!"
"Utah! Por que diabos eles foram pra lá?'
"Ahn, eu acho que eles decidiram virar mórmons ou coisa assim."

Ele me olhou de um jeito estranho e foi lá pra cima ver suas revistas pornô. Eu fui pro meu quarto fazer as malas. Na manhã seguinte, eu estava no aeroporto. Meu próprio jatinho particular esperava por mim lá e, adivinha, ele era todo verde e na lateral estava escrito "BEM-VINDA A BORDO LAURIE L., GREEN DAY TOUR '90".

Aí eu entrei no avião, e era a única passageira! E todos os comissários só pra me servir! E nós ouvimos os discos do Green Day a viagem toda até o Arizona, onde a turnê ia começar. Quando eu cheguei lá, tinha uma limusine, uma limusine verde, é claro, me esperando, e um cara fardado abriu a porta pra mim, e quando eu entrei, LÁ ESTAVAM ELES! Todos os três, Billie Joe, Mike e Tre!!! Eu tava tão emocionada que não sabia nem onde sentar, quer dizer, não sabia perto de quem sentava primeiro.

Então eu sentei entre Billie Joe e Tre e os dois começaram a falar comigo, e eu não sabia de quem tinha gostado mais porque os dois eram tão legais, mas aí eu decidi que gostava mais do Billie porque o Tre ficou cantando essas músicas de rap cheias de palavras feias. De fato eu estava surpresa pelos outros deixarem ele continuar na banda, porque eu não acho que o Green Day alguma vez tenha dito qualquer palavrão. Bem, eles falam naquela música, "Knowledge", mas isso é porque a música foi escrita por uma outra banda, Operation Ivy, que eu ouvi dizer que eram um bando de roqueiros punks.

Aí eu fui no show nesse lugar chamado "Hippycore" e lá tinha todas essas pessoas cabeludas circulando, comendo verduras e essas coisas. Muito ui. Mas o pior foi que eu descobri que OUTRAS bandas iam tocar também. Eu fiquei furiosa e disse: "Por que o Green Day não pode tocar sozinho por 3 horas? Pra que vocês precisam dessas outras bandas estúpidas?" Todo mundo me mandou ficar quieta, que as outras bandas eram boas também. Mas elas não eram. Quer dizer, elas não eram o Green Day. Eles nem tinham nenhuma música que eu pudesse cantar junto. Aí eu comecei a gritar: "Uhh! Vocês são ruins! Nós queremos o Green Day!!" Até que uma guria punk me mandou calar a boca ou ela rearranjaria minha cara com seu abridor de garrafa.

Eu imaginei se ela estava só tentando ser amigável, e decidi que não, então fui lá pra fora esperar por meus heróis. Mas quando eles finalmente tocaram, valeu por tudo. Billie cantou todas minhas músicas favoritas, e aí, bem no meio de "Disappearing Boy" (Garoto Desaparecido), ele parou e disse: "Eu quero dedicar essa música para nossa querida amiga, Laurie L., que veio de Pinole para estar com a gente hoje. Ela é tão bonita e tão legal que, se ela fosse minha namorada, eu nunca desapareceria de novo."

Foi aí que eu desmaiei. Quando voltei a mim, o show já tinha acabado e eles estavam embalando o equipamento.

Eu disse: "Billie Joe, você falou sério lá no palco?"
E ele me olhou de um jeito bem sincero e disse: "Você sabe disso, babe, mas nosso amor é impossível, porque eu já pertenço a outra pessoa. Além disso, você é muito jovem e inocente pra vida de mulher de roqueiro. Aceite meu conselho, volte para Pinole e termine o colégio, e algum dia você vai fazer algum homem sortudo muito feliz."
"Mas, Billie, eu faria qualquer coisa pra ficar com você. Eu até já fiz! Eu matei meus pais pra estar aqui com você essa noite!!!"
Mas ele apenas riu e disse: "Sério? Matou seus pais, hein? Isso é bem legal."

Então nós todos entramos no ônibus do Green Day para ir a Los Angeles. Eu estava super excitada, porque nunca tinha estado em Hollywood antes. Eu tinha um mapa com todas as casas dos astros do cinema e tudo.
Mas a gente não viu nenhum astro de cinema, só um bando de garotos cabeludos e mulheres que o Tre falou que eram prostitutas. Eu nunca sabia quando acreditar nele ou não, ele é meio maldoso, sabe. Eu estava começando a achar que talvez ele fosse o membro do Green Day que eu gostava menos, porque ele continuava cantando aquelas músicas horríveis do Ice Cube que dizem "Bitch-killa, bitch-killa." (exterminem as putas). Além disso, quando eu pedi um autógrafo pra ele, ele disse que eu tinha que falar com seu empresário, e quando eu perguntei quem era seu empresário, ele começou a abrir a calça. Aí eu gritei, e o Billie e o Mike mandaram ele se comportar, e depois disso ele parou, eu até falei que eles deviam amarrá-lo ou coisa assim até o próximo show, mas o Mike disse que muitos bateristas são desse jeito, seus cérebros ficam confusos por causa do barulho da bateria.

E aí você sabe o quê? Eu vi Billie e Mike bebendo de GARRAFAS DE CERVEJA!! Eu fiquei chocada, porque eles nem tinham 21 anos, na verdade eles tinham só 18, aí eu perguntei pra eles qual que era, mas o Billie me levou pra um canto e sussurrou: "Escuta, você tem que guardar esse segredo, mas não tem realmente cerveja nessas garrafas."
"Não tem?", perguntei.
"Não, isso é leite. Todos do Green Day gostam de leite mais que tudo, mas a coisa é que nós bebemos em garrafas de cerveja porque senão o povo ia tirar sarro da gente e dizer que a gente é viado." Então eu entendi e senti pena dos meninos. Tanta pressão é um troço horrível.

No show em Hollywood eu até fiquei no backstage e tudo, mas quando os garotos estavam quase prontos pra trocar houve uma batida na porta do camarim. "Deve ser nossa deixa", todos disseram, mas não era, era a POLÍCIA! Ai, meu Deus!! Eu pulei na frente dos policiais e disse: "Esperem, não prendam o Green Day, não tem cerveja naquelas garrafas, é só leite!"
Ele me olhou e disse: "É isso agora? E seu nome por acaso seria Laurie, mocinha?"
E eu disse: "Esse é meu nome, não tenho outro."
"Então você tem que vir conosco."
"O que você quer dizer?", eu gritei, "Ficou louco? O Green Day vai começar a tocar a qualquer minuto!"
Mas ele disse: "Desculpe, não posso fazer nada", e eles me puseram no banco de trás do carro-patrulha e me algemaram e tudo, e aí eu pensei: "meu Deus, será que isso tem a ver com os meus pais?"
É claro que tinha. Aquele pitbull estúpido levou uma clavícula do meu pai pra dentro de casa e seu dono achou e chamou a polícia. Então eu não veria o resto da turnê, e eu tinha que ir a julgamento e tudo e agora estou na cadeia, e não devo sair até 2019.

Bem, todos são bem legais comigo aqui e me deixam ouvir as fitas do Green Day. Mas eles me perguntam, valeu a pena? Matar seus pais só para excursionar com o Green Day? E eu apenas sorrio, um profundo, sábio sorriso, porque eu vi e fiz coisas que eles nunca experimentarão, nem se viverem 100 anos, e eu digo: "Claro que valeu. Afinal de contas, todo mundo tem dois pais, mas só existe um GREEN DAY!"
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Eaí? Gostaram? Meio exagerado né? E um pouco estranho também! Ah e todos nós sabemos que nas cervejas do Billie, Mike e Tré tem apenas leite, porque eles adoram isso! kk (ironia on)

Pra quem não sabe, "My adventure with Green Day" por Laurie L foi originalmente publicado no fanzine "Tales of... BLARG!"O nome da heroína da história (Laurie L.) é uma "homenagem" que o autor desconhecido fez a Lawrence Livermoore, um dos donos da Lookout Records.

"Kerplunk" é o nome de uma onomatopéia e também de um jogo.

Por: @_DrunkBunny

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