Uma entevista antiga com Billie Joe, feita por volta de 1994 pelo jornalista Dave Quinn. Confira-a abaixo:
360 degrees (fanzine de San Diego) - 1994
Se você ainda não conhece a música do Green Day, não sabe o que está perdendo. Para alguns, suas canções ultra-pops sobre amor e ódio podem ser difíceis de encarar, e de acordo com a regra nº 567348.32 do Livro dos Punx, eles estão em violação direta do código "não posso deixar meus amigos me verem com essa merda sem graça". Entretanto, o som deles é irresistível e crucial pra quem sempre quis o que não pôde ter. O tesão é o como esses caras são novos combinado com sua perspicácia sobre relacionamentos e outras coisas do tipo.
Vocês estão vindo tocar meio tarde em San Diego. Você está gostando daqui?
Eu amo San Diego... (ele segura o braço pra cima e começa a apontar pra certos pontos dele) Como São Francisco (pulso), a Bay Area (antebraço), mais ou menos assim, aí o Norte da Califórnia (cotovelo) e aqui no sovaco, é onde fica L.A., e se você descer até o mamilo, eis San Diego. San Diego é o máximo. Tudo isso pra dizer que não tem nada a ver com LA... me lembra Berkeley, mas maior e com muito mais praias. É tesão. (Ele só falou isso porque eu sou maior que ele.)
Você já ficou aqui tempo suficiente pra conhecer a cena local?A gente andou por aí, hoje, deu uma olhada em uns cafés, foi na praia (P.B.) no calçadão, foi nas lojas. Tem muita armadilha pra turistas, mas tem uns restaurantes mexicanos muito bons... Eu amo comida mexicana.
Dizem por aí que vocês assinaram com a Virgin...?Eu ouvi que a gente assinou com a Geffen. Nós estamos mesmo indo pruma major, não sabemos ainda. (...) Tem cinco interessadas, nós temos que resistir até o fim pra ter certeza. Eu ouvi falar de tantas bandas que foram destruídas pelas grandes gravadoras. É por isso que a gente não fez isso logo no começo; nós tínhamos 16, 17 anos quando lançamos nosso primeiro EP. E eu não ia querer ser rotulado como "jovem banda alternativa de rock" ou coisa parecida na MTV. Nós estaríamos acabados em 6 meses, então fizemos tudo em um selo independente. Agora nós vamos fazer coisas maiores, sabe, progredir.
Vocês abusaram da hospitalidade da Lookout?A Lookout é o máximo, nós falamos com eles sobre isso e eles concordaram. Eles sabiam que isso ia acontecer. Nós estamos fazendo mais um EP pra Lookout... Foi uma decisão que a gente levou um ano pra tomar... A gente não vai fazer nada podre tipo pôr o logo da Lookout numa major, nós vamos deixar as coisas bem definidas.
O novo material é diferente do velho?Bem, o estilo continua o mesmo, mas as letras mudaram um monte. Tem muito menos coisa sobre amor e essas coisas, e mais sobre fobias e tal.
O que você odeia?Meus medos. Eu odeio ser inseguro. Eu odeio ser neurótico. Eu odeio gente neurótica. Tem muito a ver com falar besteira... também tem um amigo nosso que morreu em um acidente de carro faz mais ou menos um ano, então o Mike escreveu uma música chamada J.A.R. sobre ele. Bem, não é bem sobre ele, é sobre crescer. Nosso novo disco é como uma combinação dos outros dois. Nós queríamos lançar o som definitivo do Green Day. É isso que estamos tentando realizar com o próximo disco.
Vocês vão perder muitos fãs da 'velha escola' quando assinarem?É, com certeza. Vai ter algumas poucas pessoas que vão ficar passadas. Eu não tenho nada de ruim a dizer sobre o punk rock ou o underground. Eu acho que é a melhor cena do mundo, mas a oportunidade bateu. As pessoas perguntam "por que vocês estão fazendo isso, é porque vocês têm família ou coisa assim?". Basicamente, é porque eu quero fazer isso, porra, e os outros também. A música não mudou. Nós não vamos mudar nosso jeito pra se adequar a alguma major. A música vai estar lá pra quem quiser ouvir. Se você acha que está contribuindo pra uma grande corporação (ao comprar o disco) eu não posso dizer nada, pq uma vez eu já falei isso, e agora estou caindo em contradição. Não há muito sobre o que falar. Um cara chegou em mim em New Jérsei dizendo "eu ouvi que vocês vão assinar com tal selo por milhões de dólares" e todas essas merdas e eu só "é, é isso que vamos fazer". Eu não tinha nada pra dizer pra ele, e ele meio que "bem, você não sabe que vai estar ajudando uma corporação multi-milionária..." e eu disse "é... eu não estou fazendo isso por eles, estou fazendo por mim".
O que muda com o contrato?Uma coisa muda quando você fica conhecido: o stress. Isso é definitivo. É engraçado porque vai ter gente que vai estar totalmente na do Green Day, mas ainda vai ter uma pessoa que vai dizer "oh, eu acho que eles são uma bosta. Eu odeio essa meleca pop", sei lá. E por alguma razão você ignora totalmente as pessoas que acham que você é bom. Você chega naquelas que te acham ruim e diz "bem, e aí?". (risadas) As pessoas dizem coisas bem chatas, mas o que você tem a fazer é descartar e não olhar pra trás. Não leve isso pro lado pessoal.
Muita gente julga as bandas pelo seu grau de politização, mas você vai ficando cada vez mais pessoal quanto mais velho. Você se vê sendo mais político?Vai haver músicas no próximo disco sobre escravidão. Minha mãe trabalha em empregos de salário mínimo faz 40 anos, e isso é um problema. Nós somos jovens e não sabemos muito sobre política, mas nós estamos amadurecendo, saindo do colegial e descobrindo que as coisas não são dadas de bandeja - viver de graça na casa dos seus pais, ir à escola, agora você tem que sair e arranjar emprego e tal. Isso é o que você é programado pra fazer no colegial. Eu não quero viver assim... Eu não quero ter um emprego nunca.
Formule uma pergunta para si mesmo.Uau, essa é difícil... Se eu fosse uma garota, quem eu seria? ... Kathleen do Bikini Kill.
Do Bikini Kill???!!!(Ele levanta a voz) Eu nunca tinha realmente prestado atenção neles, mas então eu ouvi um disco na Flórida... Ela tem uma voz bem radical, cara. Tão poderosa e tal. Ela é chapada, cara. Ela sabe das coisas. Então, sei lá porque... a Kathleen do Bikini Kill.
Quem você quis e não conseguiu?Ahn... (longa pausa) Essa é uma pergunta muito reveladora.
Conte! Revele-se! Esse zine não vai sair de San Diego, não importa.(Risadas)... Bem, tinha uma garota quando eu tinha 16 anos - a irmã do meu melhor amigo. O nome dela é Jennifer. Foi ela que me escapou. Ela é 2 anos mais velha do que eu. 'Cê sabe, um cara de 16 anos querendo namorar uma menina. No que diz respeito a ela não foi muito longe, mas eu fui. Fiquei deprimido. Eu sabia o que estava acontecendo, mas ela não queria assumir o risco, então... (risadas)
Qual música é sobre ela?Todo o primeiro EP (1.000 Hours, Dry Ice, Only of You e The One I Want)
Por: @_DrunkBunny
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