sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VOX magazine - 1995

Estamos voltando com aquelas matérias antigas do Green Day. A matéria da vez é feita pela VOX magazine, em 8 de fevereiro de 1995, noite em que o trio californiano abriu o show para o Bad Religion. Confira a matéria completa abaixo:


" SÃO AS DROGAS "


O grupo californiano GD acelerou nesse ano que passou, com mais do que uma mãozinha de seus amigos Billy Hizz e Bob Hope. E o show continua...

Pernas separadas, joelhos dobrados, pés virados pra dentro, olhos esbugalhados, o vocalista do GD Billie Joe Armstrong se pavoneia e se acaba no palco como uma galinha enlouquecida por speed. Além dele, o baixista Mike Dirnt se joga virando estrelinha, antes de bater a cabeça no suporte do microfone várias vezes.

O trio californiano Green Day pode ser novidade nos EUA esse ano - seu 3º álbum Dookie, o début numa major, vendeu mais de 1,5 milhão de cópias desde fevereiro - mas suas momices no palco, como suas músicas pop poderosas com 3 acordes básicos, são punk rock setentista direto. Hoje à noite, no entanto, a platéia de 3000 pessoas no Die Halle em Berlim Oriental é ou muito nova pra lembrar ou está se divertindo demais pra se importar. Muitos viajaram do lado oeste da cidade para pogar descuidadamente pelo chão de pedra do lugar cavernoso, retangular, que outrora serviu como fábrica de trator soviética.

O Green Day está aqui para abrir para o Bad Religion, mas a reação extasiada que o set de abertura e o novo single Welcome to Paradise recebem denuncia claramente quem a maioria do público pagou pra ver. Alguns garotos já sabem cada palavra da música e cantam com a banda com um bizarro sotaque alemão.

Na metade do show o Green Day dispara os singles poderosos e energéticos Longview e Basket Case. As 1º fileiras enlouquecem de um jeito estudado. Todo mundo pogando, ocasionalmente subindo em cima dos amigos para ser carregado pela massa. Se alguém cai, entretanto, imediatamente se abre um espaço e eles são ajudados por caras amigáveis e desconhecidas.

No palco, Billie Joe, Mike e o baterista de cabelo verde Tre Cool estão absortos quando tentam encerrar o show com uma cover de Eye of the Tiger do Survivor. Em 30 segundos a música é abandonada quando o baixo de Mike começa a sair de tom num crescente e a banda opta por trocar rapidamente para a faixa do disco, She, acompanhada por uma exposição recalcitrante de postura punk e pernas afastadas.

Pode ser apenas o 2º show da turnê européia de 10 meses, mas amanhã faz exatamente 12 meses de shows sem intervalo pro Green Day. Inacreditavelmente, mesmo um ano na estrada não parece ter esgotado a energia e o entusiasmo do trio nem tolhido suas brincadeiras infantis infames.

"São as drogas", explica Tre Cool, socando maconha dentro de um cachimbo maluco feito de uma miniatura de garrafa de Coca-Cola. Green Day (assim chamado devido ao hábito excessivo de fumar maconha) é, claro, mais como um arquétipo de banda anfetamínica.

"Eu era uma vítima do speed até meus 18 anos", confessa Billie, que agora tem 22 e está casado. "Eu usei mais speed do que você pode imaginar. Eu não via problema nenhum nisso, mas no fim eu parei porque tinha muitos períodos de depressão."

"Nada é problema quando se tem 16 anos", interrompe Mike, que começou a tocar guitarra com o Billie quando os dois tinham 11 anos. "Nós crescemos em Berkeley, que é a capital californiana da meta-anfetamina, então tudo era irrelevante pra gente."
Peculiarmente, enquanto a imprensa britânica tenta amarrar o Green Day com seu semelhante, Offspring, para inventar algum tipo de movimento transatlântico como a New Wave da New Wave, em casa a imprensa musical se prende ao hábito de fumar maconha do Green Day para vendê-los como desocupados.

"Foda-se! As pessoas podem nos chamado que quiserem", reage Billie Joe. "Eu escrevi uma música sobre tédio, masturbação e fumacê chamada Longview, que foi o 1º single. Ela tocou no rádio ao mesmo tempo em que as pessoas estavam capitalizando em cima da tal de Geração X. Foi assim que a gente foi confundido com desocupados nos EUA. Certamente não foi intencional. Além disso, se você está em turnê faz um ano você não é um desocupado."

E sobre a conexão com Offspring... "Acho melhor manter a gente e o Offspring separados", adverte Billie. " A gente os conhece faz tempo e eles são caras bem legais, mas o que eles fazem é irrelevante para nós." 


O Green Day também não gosta de ser rotulado de punk rock, deliberadamente referindo-se a si mesmos como "uma banda de rock chicletão".


"O punk rock não pode ser mainstream", explica BJ. "Ele tem que ser underground, o que nós não somos, principalmente nos EUA."

As influências dele, no entanto, são mais diretas. Os Ramones, Iggy Pop, Replacements, RKO, Hüsker Dü, Minor Threat e Cheap Trick são as favoritas, enquanto bandas britânicas como The Jam e The Clash são relativamente recém descobertas. O assessor de imprensa da banda foi mandado para a Inglaterra para trazer um songbook do Jam, visto quer Billie Joe está tendo dificuldades em trabalhar a letra de Away From the Numbers do Paul Weller, sua música favorita no momento.

"Eu realmente entrei em contato com o 1º disco do Jam recentemente", admite ele. "Só agora também que estou virando fã do Clash. Quando você não nasceu no mesmo lugar que uma banda, você tem quem fazer um pouco de garimpagem. Agora que a gente tem mais dinheiro nós podemos da uma olhada em alguns desses discos. O Clash me assusta, no entanto. Eles escreveram músicas demais. Eu não sabia que alguém podia escrever tanto. Eles eram como os Rolling Stones."

Na parada de composição, o Billie não está indo mal. Em 4 anos ele escreveu não só todo o Dookie como 39/Smooth e Kerplunk, os 2 primeiros discos independentes do Green Day, cada um vendendo mais de 30.000 cópias. Ele até já escreveu o 4º álbum da banda, que será gravado ano que vem. Ele ainda não tem título, mas o tema definitivamente é crescer.
"Muitas das músicas são sobre meta-anfetamina, na verdade", revela Billie. "Também tem uma sobre uma garota que sai de casa pra morar na cidade, baseada na minha mulher, e outra sobre garotos que esperam seus pais morrerem pra herdar seus bens. Como tudo que eu escrevo, elas tem a ver com tédio, frustração, amor, ódio, peitos e bundas."

"As músicas são sobre ser um otário mas nunca um palerma", interrompe Tré.
"Não, não são", diz Mike. "São músicas sobre bestialidade, satanismo e auto-tortura. Nós somos grandes fãs dessa loucura sadomasô. Quando não estamos gastando centenas de dólares por semana com os serviços de dominatrix, nós esquentamos os números do alvo de dardos e derramamos na pele."

Com isso, a entrevista se dissolve em um debate sexista, chapado e arruaceiro, enquanto lá fora no frio cortante, pais se sentam pacientemente dentro de carros herdáveis, esperando para levar os filhos pra casa.

Por: @_DrunkBunny
Fonte: GreenDays

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