domingo, 26 de junho de 2011

Addicted Noise - Parte 2

Aqui esta a entrevista com Billie Joe na época do "Insomniac", a segunda parte da matéria de ontem:

ENTENDO O BILLIE JOE DO GREEN DAY

Você teve alguma idéia de que um dia ia fazer tanto sucesso?

Não, eu acho que não. Você quer dizer quando nós começamos a banda?

Quando você era pequeno, você sabia que ia fazer isso?

Era isso ou ser um motorista de caminhão da Safeway. Era isso que meu pai fazia antes de morrer quando eu tinha 10 anos. Eu não fazia a mínima idéia do que eu queria ser, quando eu era pequeno. Eu era só um garoto normal, só um pouco mais baixinho que os outros. Mas eu tinha amigos, e me sujava o tempo todo.

E ainda se suja.

É, nada mudou.

Especialmente com um bebê.

Crianças não precisam ficar limpas. Eu sempre odiei quando os pais diziam "você tem que manter sua roupa limpa". Crianças devem se sujar, mas quando elas saem pra brincar, existe um motivo pra subir naquela árvore, ou numa caixa de areia. Elas querem se sujar e se divertir.

Qual é o maior mito sobre a fama? Chrissie Hynde (do Pretenders) diz que as pessoas acham que os famosos são mais interessantes que os normais. O que você acha?

Acho que ela acertou. Eu sou um cara bem maçante. Eu não saio muito. Quando nós temos um show eu fico sentado no ônibus o dia todo, aí eu chego, entro no lugar onde a gente vai tocar e fico sentado por lá. Talvez coma um pizza. Ingira um pouco de cafeína. Toque um pouco. É nesses lugares que você pode liberar toda sua energia e tal. E aí você acaba, e fica bêbado. Eu sou um bebedor pesado. É isso que eu faço. É minha agenda pro dia. O que não é muito excitante. É bem igual a todo mundo. Uma pessoa vai pro trabalho, trabalha seja lá onde for, vai pra casa e aí se solta e resiste até cair de sono e faz tudo de novo no dia seguinte.

Como é você quando bêbado?

Como eu sou? Meio sonolento. Eu não sou uma pessoa agressiva. Eu posso ser, fico irritado com certas coisas, mas não sou o tipo de pessoa que machuca os outros.

Existe um erro de concepção sobre o Green Day. O que as pessoas pensam errado sobre sua banda?

Provavelmente que nós somos uma banda punk. Eu acho que quando você passa um certo ponto - um certo nível de popularidade, você não pode mais ser considerado o pobre diabo. Você não é mais o pobre diabo, que é justamente o que o punk rock é. Não é mais uma comunidade pequena, se torna uma coisa popular na mídia. Não pode mais ser chamado de alternativo. Eu acho que esse é um dos maiores erros que as pessoas cometem. A gente não sai por aí empunhando a bandeira do punk rock, nunca fizemos isso. Nós definitivamente fomos influenciados por bandas de hardcore dos anos 80, mas a gente não vive pra isso.

Eu noto muitas guitarras rock'n'roll nos seus discos. Pra mim o elemento punk vem da raiva de suas letras e do sentimento de desencantamento.

É.

Por que vocês e não os Ramones?

É o senso de oportunidade. Aquela era uma época diferente. As pessoas não estavam prontas pra isso, as pessoas estavam mais para Captain and Tenille naquela época. Os Ramones eram uma grande banda você sabe, eu não tenho nenhuma simpatia por essas banda que não ficaram famosas. Eles foram uma grande influência nessa década de música e eu acho que é algo que deve ser recompensado e algo para se orgulhar se eu estivesse no lugar deles, porque existem muitas outras bandas que não receberam nenhum reconhecimento que foram muito influentes para mim. Me influenciaram demais. E não conseguiram merda nenhuma. E não acho que essas bandas tenham que reclamar. Eles deveriam ver pelo que passaram. Essas bandas pra nós - bem, a gente não entrou nessa pra ficar famoso. Eu não comecei a tocar punk rock pra ficar famoso. Foi na base da tentativa e erro. Já tinha sido provado que essa música não podia ficar popular, exceto numa pequena facção. Foi uma grande surpresa pra mim como foi provavelmente para você também. Não a banda, mas você. (Risadas)

Qual foi o motivo que te fez virar músico? Foi uma necessidade de se auto-expressar?

Foi mais porque eu queria tocar rock'n'roll. Eu me divertia fazendo isso, eu vi muitas pessoas que eu admirava tocarem rock'n'roll. De Elvis, passando por Iron Maiden até Ramones. Eu sempre me senti atraído pelo rock'n'roll. Eu gosto do perigo disso, principalmente. Quando o metal virou aquela coisa saturada tipo Bom Jovi, então eu comecei a me aprofundar - chegando em bandas como Slayer e Metallica. Então fui mais longe e cheguei no Husker Dü. Essa foi minha banda do coração, a primeira que eu amei mais que tudo.

Dadas as circunstâncias e ao seu enorme sucesso, é difícil para você escrever sobre ser rebelde e insatisfeito? Ou ainda existem coisas contra as quais você se rebela?

Eu não sou exatamente rebelde, existem coisas que me irritam. O racismo, a brutalidade policial e essas merdas todas contra as quais eu sempre fui e sempre serei. E você sabe, eu sou humano muito embora tenha ficado famoso. Tem coisas que me emputecem todo santo dia. Assim que você se livra de certos problemas, como dificuldades e encargos financeiros, você herda algo completamente diferente com o que as pessoas não estão acostumadas. Eu acho que muitas das músicas do novo disco são quase incoerentes. Eu estou tentando definir o que sinto e tentando analisar o âmago dessa emoção, e a última coisa que eu quero ser é mais um rockstar reclamando da fama.

Eu não espero isso de você. O que eu acho é que você só quer ser compreendido. Eu acho que você quer fazer diferença.

É sim! É minha meta, eu quero mesmo ser compreendido e constantemente me pegam fora do contexto. As pessoas não sabem de onde eu venho. As revistas inglesas estão dizendo que eu venho de um ambiente rico, que eu nunca tive que lutar por nada na vida. O que é uma bobagem. Eu acho que eu tenho muito com o que me zangar - meu passado e tal. Sou filho de uma mãe solteira com seis filhos. Nunca tive merda nenhuma e não tô reclamando disso.

Deve ter sido duro perder seu pai aos 10 anos.

É. Alguns garotos perderam os dois. Ao mesmo tempo, eu não dou nada por certo. Todas as coisas que aconteceram com a gente, nós tivemos sorte. A única coisa que eu gostaria é que as pessoas se identifiquem com a minha música e minhas letras, e isso é mais do que eu jamais pedi.

Vocês encartaram as letras no Insomniac - o que não tinham feito nos outros lançamentos. Por que isso - outro meio de ser compreendido? Ou você está mais orgulhoso do seu trabalho do que antes?

Eu achei que era uma boa idéia simplesmente… Você tá falando do programa do Henry J. Kaiser?

Não, as letras que vocês encartaram no disco.

Não, eu me orgulho das minhas letras, eu gosto de escrever. Eu gosto de fazer humor, eu gosto de fazer as pessoas rirem - ou pelo menos tentar. É tudo. É legal quando as pessoas podem cantar junto com alguma coisa.

A matéria fecal figura no corpo de trabalho do Green Day. Merda é uma metáfora da vida?

(Risadas) Pode ser, é principalmente mau humor.

Bem, eu tenho tendência a procurar um tema nas músicas.

Sei lá - existe um tema 'toilet' em Insomniac? "Armitage Shanks" (o nome de um fabricante de aparelhos sanitários). Eis onde ele se encontra.

A fama tem preço?

É, acho que sim. Eu realmente quase não tenho vida pessoal, mas eu gosto muito de sair e ir a um bar ocasionalmente.

Você acha que pode sair pela Bay Area sem ser abordado?

Eu não vou simplesmente me trancar. Não vou viver numa porra dum buraco. Eu vou sair e continuar tentando viver minha vida, e eu quero me divertir. Mas sim, tem um preço. Existe a reação oposta. Tem gente que amou nosso último disco, mas agora que nós ficamos populares eles nos odeiam. Esse tipo de coisa.

É uma coisa bem a cara de Berkeley.

Berkeley sempre foi o pobre diabo porque é bem do lado de San Francisco. E é no norte da Califórnia, e não no sul, que sempre alcança a notoriedade. Mas eles podem ficar com ela, no que me diz respeito. Eu não quero que Berkeley ou San Fancisco virem outra Los Angeles. Nós gravamos metade do disco lá e foi ruim mesmo.

É importante pra vocês apoiarem outros artistas? Eu tenho visto vocês darem uma força para outras bandas da Bay Area como Pansy Division, Tilt, China Drum e agora o Riverdales. Existe alguma responsabilidade que um artista tem para com os outros?

É, mas não é caridade. Eu gosto das bandas da Lookout Records. Eu sempre gostei dos discos da Lookout mesmo antes da gente estar no selo, e mesmo depois, agora. Tem umas bandas ótimas como High Five's, Riverdales, Mr. T, Experience e Queers. Eles são grandes bandas punks com grandes músicos pop, com elementos melódicos no que fazem. Eu gosto muito do Riverdales. Ben é um grande amigo meu, e os outros também, Dan Vapid e Dan Panic.

Você então está basicamente ajudando seus amigos. Vocês chegaram numa certa altura e agora estão jogando a corda pros seus camaradas.

É. Se eles querem se juntar a nós a porta vai estar sempre aberta para que eles venham e toquem em shows grandes.

Gosto desse posicionamento. Também gosto da sua política de manter o preço dos ingressos baixos e o das camisetas razoável. Pra mim o Green Day é o verdadeiro Pearl Jam.

(Risadas) Bem, você sabe, nós só baixamos o nível. Nós não estamos tentando tipo estabelecer um padrão. Isso é o que a gente que vale. Especialmente com os preços dos ingresso tão caros. As pessoas não podem pagar essa bosta, se elas têm um emprego de salário mínimo. Especialmente com o custo de vida na Califórnia e em Nova York. Onde o aluguel é tão alto, é difícil pras pessoas custearem esse tipo de merda. Eu gostaria de ir a um show que pudesse pagar, então…

Eu li em outras entrevistas que você não gosta de ser tomado como modelo. Isso mudou ou ainda te deixa desconfortável?

Um pouquinho. Eu não quero ser político. Eu sou um músico e ainda é difícil acreditar nisso às vezes.

Bem, você está vivendo o sonho.

Sim, estou.

Eu sempre achei que você tirar a roupa num show era algum tipo de mensagem política.

Isso geralmente acontece quando o show tá medíocre. Assim quando um show não detona, sabe como? E a energia que vem da platéia não é tão grande, e o público não está se satisfazendo com a gente. Então eu dou a eles algo para se lembrar - mesmo que não seja lá grandes coisa.

Você é muito modesto, tenho certeza. Então o que acontece, o show passa pra outro nível de energia?

É. Você devia ver a cara das pessoas, elas simplesmente não conseguem acreditar.

Sua esposa te enche o saco por se despir assim?

É, ela fica louca comigo às vezes. Ela é bem possessiva em relação a mim. Eu também sou assim com ela.

E quanto às fãs mulheres depois desses shows.

Eu não tenho nenhuma intenção sexual.

Então eu posso presumir seguramente que não tem nada de político.

Não. É mais um contra-ataque. Talvez eu seja só uma pessoa semi-exibicionista.

Talvez? Desde que você era criança, provavelmente você precisa de muita atenção.

Bem, é. Era eu que eles costumavam deixar pelado, amarrar e jogar no jardim da frente.

Como é seu processo de composição?

Eu acho que eu pego uma melodia e cantarolo na cabeça. Muita gente é assim, eles cantarolam uma melodia e dizem "que música é essa?". Alguns deles nem sabem que estão escrevendo músicas na mente. Eu simplesmente pego uma melodia, ou sento e toco guitarra e de repente aparece algo.

A música sempre vem primeiro?

Varia, é meio a meio.

Você sempre carrega um caderno de anotações consigo?

Eu faço isso com bastante freqüência, eu tenho relaxado um pouco ultimamente, e meio que me concentrado mais em levar adiante shows ao vivo.

Qual é a cura infalível para a insônia?

Eu não diria drogas, mas ocasionalmente eu tomo um relaxante muscular. Sei lá, fique acordado até cair no sono eu acho.

Quando você não consegue dormir você se queixa ou trabalha?

Minha insônia vem muito do stress, muito do disco foi escrito no meio da noite. Eu tenho um filho agora, então eu não tenho os melhores hábitos de repouso do mundo. Ele é um garoto muito legal. Ele gosta de gente, é muito cordial com as pessoas. Ele é tipo um homem do mundo.

Pra onde se vai quando morre?

Eu me considero um agnóstico, então eu não tenho muita certeza. Eu meio que acredito que possivelmente existe algo lá. Eu não sou tão inflexível pra desconsiderar essa hipótese. Eu acredito que existe uma força superior em algum lugar, eu só não sei o que é. Eu realmente gosto muito do simbolismo católico. Eu e a Adrienne colecionamos um monte de crucifixos e contas de rosário e coisas do gênero. Em nossa casa nós temos um monte de velas e essas coisas.

Quando você começou a ganhar dinheiro qual foi a 1.a coisa que você comprou?

Eu comprei meu primeiro carro. Eu ainda tenho o mesmo. Eu dirijo um Ford Fairlane, e foi o 1.º que eu tive. É isso aí.

Por: @_DrunkBunny

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