domingo, 1 de maio de 2011

Alter/Native - Entrevista com Mike

Continuando nossa série de entrevistas antigas do Green Day, temos a da Alter/Native de 4 de abril de 1994 com Mike Dirnt feita por Kelly Enriquez e Jen Gore. A entrevista segue abaixo:

A: É verdade que você é quem tem que responder à maioria das entrevistas?
M: É. Os outros caras não gostam muito de fazê-las. Eu prefiro fazê-las e acabar logo com isso. Pôr tudo nos termos.

A: Essa não vai sair na Rolling Stone ou na Spin nem nada.
M: Oh, eu não me importo se é um zine... isso é legal. Onde ela vai sair?

A: No nosso guia de programação e em um zine de Corvallis.
M: Corvallis. Fomos a uma festa lá. Foi bem legal.

A: Nós ouvimos falar. Então... algumas perguntas básicas. Quantos anos vocês tinham quando começaram? Vocês estavam na escola?
M: Ahan, no 1º ou 2º ano.

A: Nós geralmente fazemos resenhas dos discos que saem e sobre o 1º (39/Smooth), dizia "Eu acredito que esses caras ainda estão na escola".
M: No 1º disco nós estávamos na escola. No segundo fazia um ano que tínhamos saído. Nós éramos bem novos, eu acho. Quantos anos vocês têm?

A: Eu tenho 19. Eu tenho 25.
M: Eu tenho 21.

A: Eu sou a D.M. e ela é a ex-DM.
M: Ex-D.M.?

A: Diretora Musical.
M: Bem, eu era entendido nisso.

A: Opa, desculpa. Eu estou tão absorta nesse jargão de gravadora.
M: É um título bem legal. A ex-DM da KDVR [estação de rádio]... é isso?

A: É. Eu pensei em te mostrar isso, o que eles escreveram sobre vocês no material promocional. Diz que vocês se vestem de mulher. É sério? Vocês fazem muitos shows assim?
M: Estava virando tendência, então a gente parou. Agora a gente só faz isso nos lugares que sabemos que são homofóbicos.

A: Bem legal isso. Corvallis seria um bom lugar pra fazer isso. Então, vocês todos cresceram em Berkeley?
M: Perto dos subúrbios de Berkeley. Num lugarzinho chamado Rodeo. Na verdade se fala Rodao, mas se escreve Rodeo.

A: Quando vocês estavam no colegial tinha uma cena legal em Berkeley?
M: Não. Nós íamos pra escola do subúrbio. Era uma merda. Um ano eu estudei em uma que era uma merda. Mas aí eu fui pra outra que era mais alternativa. Mas mesmo assim tinha um monte de merdinhas e tudo. Foi um tanto mais alternativo. Tinha garotos alternativos, mas muitos outros merdinhas. Bem podre.

A: Então muitas de suas músicas são sobre a vida nos subúrbios e morrer de tédio?
M: É. Só morando numa cidade desprezível. Nós viemos de uma cidade onde todo mundo morre pela aprovação dos veteranos e de seus namorados e namoradas.

A: Parece a minha escola. Parece a escola de todo mundo.
M: É, acho que sim. É o problema de todo mundo... como na Bay Area um monte de gente manda ver um monte de drogas. E ficam lá, preferem trabalhar em empreguinhos de período integral e se acabar. Ao invés de sair de lá e fazer o que realmente gostam. Sua limitação é fazer parte dessa cultura suburbana. O problema da subcultura é... é muita coisa ruim.

A: Uma amiga minha viu você no 120 Minutes ("Lado B" da MTV norte-americana) e ela disse que vocês pareciam aborrecidos e puteados. É verdade?
M: Não, não mesmo. Na verdade a gente tava se divertindo aquele dia. Nós ficamos um pouco entediados porque tivemos que fazer a mesma coisa 5 ou 6 vezes. Ou era a gente ou o Louis Largent dizendo "foda" ou "merda" ou "bagulho" ou qualquer coisa que não podíamos falar.

A: Não pode dizer "bagulho" na MTV?
M: Nada de referências a drogas.

A: Falando em palavrão, quem escolheu Longview pra ser o 1º single?
M: A Warner queria e a gente queria. Na verdade éramos nós que estávamos mais hesitantes... ver se ia prejudicar a execução no rádio ou qualquer coisa assim. Mas a Warner nos encorajou e eu achei bem legal. Então a gente saiu com ela. Desculpe, eu quis dizer a Reprise nos encorajou.

A: Tudo que eles fazem é tomar a liberdade de cortar os palavrões.
M: É, as pessoas podem adivinhar o que a gente disse.

A: Com certeza. E quanto a Welcome to Paradise? Foi idéia da banda regravá-la?
M: É, totalmente. Tem um monte de músicas de Kerplunk que a gente só foi aprender uma semana antes de gravar. Essa música, 80, No One Knows, One of My Lies... tem um monte. Todas ficaram prontas em uma semana. E então, especialmente essa música, nós queríamos apresentá-la como uma música forte. No Kerplunk acontece um monte de coisas fantasmagóricas no meio [ele faz barulhos esquisitos]... todo tipo de coisa estranha. Nós queríamos mostrar uma música sólida, e nós achamos que ela ia se encaixar melhor nesse disco.

A: Qual versão você prefere então?
M: Eu gosto das 2, mas eu acho que a música se encaixou muito bem nesse disco. Ela vai ter a devida atenção agora. Não é que a gente quisesse que fosse o 1º single, mas nós achamos que ela combina muito bem com o resto do disco, as letras, o tema, e nós queríamos mostrar como ela é uma música forte, como ela é honesta.

A: Vocês tiveram bastante controle criativo para fazer esse disco?
M: 100%. Até 150%.

A: Tem alguma diferença entre a Reprise e a Lookout?
M: Ahan. Tem uma grande diferença quando você gasta um monte de dinheiro num disco ao invés de 1.500, 700 dólares. Que foi o preço dos nossos outros discos, 700 pelo 1º e 1.500 pelo 2º. Nós tivemos tempo pra prestar atenção no que estávamos fazendo. O motivo das coisas estarem mais altas é que você está fazendo num ambiente mais moderado, você tem um estúdio maior, mais equipado. O álbum inteiro soa maior. Essa é a principal diferença entre qualquer disco de uma major e um selo independente, porque os discos independentes são gravados com orçamento menor e soam transistor até certo ponto... como nos agudos... e os graves não detonam como o resto... Isso não é problema. Eu adoro isso. Mas o rádio e a TV... muitas pessoas perdem tempo ouvindo coisas inaudíveis. Como meu pai me dizia "meu deus, a qualidade dos seus discos... as músicas são boas e tudo, mas a qualidade é tão lo-fi". Bem, era assim que nossas gravações eram, e eu acho que nós obtivemos o mesmo som que teríamos obtido se aqueles outros discos tivessem saído numa major.

A: Você gosta do som do novo disco?
M: Eu adoro.

A: Então você está feliz com a transição?
M: Muito. Eu acho que a gente tomou a decisão certa, o selo certo.

A: Houve um consenso para ir pra Reprise?
M: Completamente. A principal razão de termos trocado de gravadora, levou um ano pra gente tomar a decisão, porque chega um ponto em que garotos de 15, 16 anos não podem levar adiante shows para 600-900 pessoas. Então você acaba lidando com promotores de clubes de porte médio, e muitos desses caras são realmente espalhafatosos. Se você não tem apoio legal, então eles simplesmente te roubam. Três de quatro shows da nossa turnê foram cancelados porque os bombeiros apareciam e fechavam o clube punk, ou fechavam completamente ou só cancelavam o show e alertavam a polícia e os bombeiros sobre os clubes. Tudo isso é prejudicial para os shows punks. E aí tinha todo esse pessoal dizendo "olhe todos esses babacas que estão aparecendo nos seus shows". Tem um monte de gente que me diz "cara, olha essas pessoas que seus shows atraem agora, olhe para eles". Eu digo "Sabe o que cara, você é um racista de merda". Esse é um problema. Se eu encontro alguém que é um palhaço ou é diferente de mim de algum jeito, se eles forem pessoas legais, eu vou cumprimentá-los, mas se forem uns cuzões e me demonstrarem isso eu vou dizer pra eles que eles são uns cuzões. Nossa música não foi criada estritamente para punks. Mas saiu e nós tocávamos para punks porque nossos amigos eram punks e nós gostávamos disso e de fazer o circuito punk. E eu acho que a gente deu o melhor de nós. Nós fizemos perto de 1.000 shows punks e agora vem a cobrança. E machuca mais ainda quando escuto as pessoas dizerem "Bem, agora o pessoal da minha escola vai gostar da sua música, porque é a moda e blá blá blá". Para mim isso é meio egoísta. É, mas você ouviu logo que saiu, fique feliz por ter tido isso há alguns anos. É assim que eu me sinto. Tem gente que fica brabo com a gente única e exclusivamente por isso. Nós não queremos levar esse aspecto legal pros shows de punk rock, pra cena punk. Nós estávamos atraindo um monte de gente que não entendia o espírito dos shows punks, então sempre tinha brigas. Ia acontecer a mesma coisa, quer a gente desistisse, quer continuasse. Estamos indo em frente.

A: Muita gente diz que seus fãs são meio agressivos com vocês, gritando pedidos no meio das músicas e tal.
M: Isso é legal. Eles sempre fizeram isso. É por isso que a gente não tem set list. A gente toca conforme a reação da platéia. A gente não toca tudo que eles gritam pedindo. A gente tem tipo um formato pra tocar, mas não temos set lists, pelo menos não depois da nossa 1º turnê. Depois dela nós jogamos fora nossas set lists e combinamos não fazê-las nunca mais. Então não fazemos. Decida qual músicas você vai tocar e outras que você também possa trabalhar. Para energizar se a platéia está caída, A gente tenta pôr mais energia. Se ela está muito ligada, então a gente tenta dar um tempo, acalmar um pouco, porque a gente não quer que ninguém se machuque nem nada.

A: Então vocês sentem a audiência?
M: É, a gente toca conforme a reação dela.

A: Mas eles nunca saem de controle? Xingando vocês no palco...
M: É, eles fazem isso. Bem, alguns ficam putos gritando "Toquem isso! Toquem isso!". Que nem um cara num show, ele tava "Toquem Knowledge, toquem Knowledge!". Isso foi em Rhode Island. E eu sinalizava pra ele "a gente toca, a gente toca". Mas ele não me ouvia e ficou todo "Fodam-se!". Totalmente irado. E eu cheguei e ele "cara, eu te respeitei. Cara, foda-se!". Mas eu falei com ele e disse "Ei, você ouviu o que eu disse? Eu disse OK e você mandou eu me fuder mesmo assim. Quer saber, foda-se!". E todos os amigos dele riram da cara dele. Ele só "desculpa!". "É, pense antes de falar. Se eu não tocasse Knowledge você ia sair do show nos odiando?" Essa é uma, nós não podemos tocar toda música que cada um quer ver, mas nós tentamos satisfazer a maioria tocando o que achamos que vai agradar a todos.

A: Então, como vai indo a turnê?
M: Está sendo ótima. Todos os shows lotaram. Platéias muito boas.

A: Vocês está cansado?
M: Ahan, estamos bem cansados, mas nós vamos descansar 2 semanas e depois passar 6 semanas na Europa. Depois voltamos por 2 semanas e caímos na estrada de novo por 2 meses ou mais. Então, vamos continuar cansados pelo resto de nossas vidas.

A: Então daqui vocês vão pra Seattle e daí...
M: Vancouver e depois vamos pra casa.

A: Então teve algum incidente na turnê que se sobressaiu, algum lugar ou show muito legal de que você se lembra?
M: Todos os shows têm sido muito bons. Chicago foi o máximo. As platéias de lá são bem legais e tem sido boas com a gente. Flórida foi extraordinário. Não que eu tenha caído de amores por lá, mas tem um monte de gente bem legal na Flórida. Infelizmente eles estão atolados lá. Muitos se sentem assim também. É um lugar malucão. Em todo lugar que a gente foi tem havido ótimos shows. Noite passada a gente tocou em Salt Lake City. Eu achei um tesão que o MCA do Beastie Boys apareceu. Ele gostou do show. Mas aquele show saiu de controle porque os garotos estavam pulando de um balcão da altura desse teto na multidão. Eu não me importo com stage diving, enquanto as pessoas sejam corteses umas com as outras. Se tem 5 ou 10 pessoas paradas por ali e eles não estão perto e um cara simplesmente pula neles e joga todo seu peso no pescoço de algum cara, isto é errado, ou no pescoço de uma garota, se for o caso. Eu diria que as garotas têm levado a pior nessa turnê. É bem brutal. Tipo garotas de 1,50 m, 40 kg segurando caras de 100 kg se jogando. E esse cara que estava pulando tinha uns 90 kg. Ele pulou 2 vezes e da segunda vez ficou nocauteado. Ele nem pestanejou. Ele estava literalmente passado. Todo mundo saiu do caminho, ele bateu no chão e tiveram que arrastá-lo pra fora. Foi tipo, que idiota!

A: Vocês continuam tocando quando essas coisas acontecem?
M: Não, a gente pára. Se tem alguma briga, se alguma coisa assim acontece a gente pára. Na verdade a gente parou quando o acharam. Porque o cara foi um idiota. Você não pode pular dessa altura! E a multidão estava muito espaçada. Não estava completamente compacta.

A: Hoje vai estar bem compacta.
M: Você acha?

A: Claro, tenho certeza que vai lotar... por 5 dólares! Como vocês fazem para manter o preços do ingresso tão baixo?
M: A gente perde um monte de dinheiro. Basicamente a gente paga do próprio bolso. Acredite se quiser.

A: Vale a pena?
M: É, vale. Mas às vezes eu fico realmente frustrado porque a garotada berra com a gente de qualquer jeito, achando que a gente está ganhando um dinheirão porque estamos numa major. A MTV não te paga. A menos que a garotada vá e compre seu disco você não está ganhando nada. A gente ainda não ganha nada. Perdemos centenas de dólares nesta turnê. Eu só não gosto que fiquem esfregando isso na minha cara, dizendo que eu sou um rock star. Um rock star é 2 coisas: um rock star é um cuzão e é rico. Eu não sou nem uma coisa nem outra. Nem longe disso. Isso também me aborrece. Tem gente que chega na gente e faz as perguntas mais esquisitas. Só fazem perguntas sobre dinheiro. Nós vendemos camisetas bem barato e não ganhamos um tostão furado. Para manter o preço das camisetas tão baixo, nosso assessor financeiro fica realmente chateado quando reclamam por 10 dólares. Mais barato que isso e a gente tem que pagar. Depois dessa turnê, nossos preços vão ter que subir um pouquinho, porque a gente não pode continuar pagando para tocar. Essa turnê tem sido fisicamente exaustiva, tocar 10 dias, descansar um viajando. Então mais 6 dias e 1 viajando. Mais 10 dias... nessa turnê toda a gente só teve um dia de descanso em que não tivemos que viajar. Então é fisicamente exaustivo. É assim que temos feito, e tem funcionado muito bem... todos os shows lotaram. As pessoas compram nossas camisetas e é radical. Eu não sei se a gente se meteu em encrenca fazendo as pessoas esperarem shows de 5 dólares cada vez que aparecermos porque a gente não pode, é muito caro.

A: Mas as pessoas que lerem o guia vão saber.
M: Bem, eu não me importo. Por mim... e daí? Nós agendamos nossa própria turnê, é essa nossa situação. [alguém entra para dizer ao Mike que ele é necessário para fazer o sound check] Bem, eu tenho que fazer o sound check. Mais alguma pergunta?

A: O que é um Green Day?
M: Bem, Green Day é só uma música, mas um green day é um dia com muito mato verde onde você só senta e se chapa. Vocês fumam maconha?
[respostas abstraídas para proteger os não-tão-inocentes]

A: Quantos anos Larry Livermore tem de verdade?
M: Eu acho que ele tem uns 150. Ele é o irmão Yoda.

A: Tem alguma banda cujos membros são mais novos que você que você gosta?
M: Smoking Popes, Potatomen - o Lawrence toca nessa banda mas os outros caras são todos mais jovens. O Smoking Popes é de Chicago.

A; Algumas pessoas mandaram perguntas pela Internet e uma falava: "Como ranho e tatus afetam sua vida, especificamente seu tempo de lazer?"
M: Especificamente meu tempo de lazer? [alguém aparece novamente para dizer ao Mike que precisam dele urgente no palco] OK... Eles me afetam principalmente no palco, porque vêm direto na minha cara. Balance bastante sua cabeça e vai acontecer com você também. No meu tempo de lazer, não sei. Vamos só não cutucar isso agora (risadas).

A: E a fixação por cocô de cachorro? O Dookie e toda aquela cocozeira na capa?
M: Nós pessoalmente acreditamos que os cachorros vão dominar o mundo. E quando isso acontecer eles vão acertar todo mundo com merda.

Por: @_DrunkBunny

Nenhum comentário:

Postar um comentário